sábado, 25 de setembro de 2010

SEM TÍTULO

Pois é... como pode ser facilmente notado pela data, minha criatividade anda mais quebrada que sigilo telefônico e fiscal em época de eleição. Parcela da culpa é dos horários eleitorais, que gastam todo o repertório de piadas de hipocrisia na sua reprise bienal. Mas, aproveitando isso, vou tirar uma casquinha desse assunto CÔMICO, e começo me perguntando: será que é por isso que o encontro de mais de um colarinho branco no mesmo palanque é chamado de COMÍCIO?
E já de cara vou postar uma indignação que é fatalmente citada entre os amiguinhos mais cultos nos parquinhos: por que é que nós, bebês, não temos Título de Eleitor?!? Antes mesmo de aprendermos a mamar nas tetas como eles, o Governo já se prontifica a orientar nosso primeiro sacramento: o “batismo numeral”. É registro de nascimento, registro geral, registro no censo do IBGE e até registro de CPF infantil – e se fosse liberado, conheço muita criança desesperada que já teria até aproveitado uma bobeada dos papais pra fazer um consignado no holerite da sua poupança na Caixa Federal. Então, por que não o famigerado Título? Se for pra fazer coco e sentar encima a cada dois anos, deixem com a gente que faz isso numa frequência bem maior, e sem esforço nenhum, religiosamente todos os dias. E sem pular nem o 7º dia, que até Deus tirou pra pensar no grandão que tinha feito nos outros seis.
Ainda falando sobre os dias de campanha, se me permitem, tem um mistério que ronda as eleições e nem a mídia gosta de comentar abertamente. Talvez com medo de causar pânico na população - tipo as lendas da “loira-sem-cabeça” ou da “mula-do-banheiro” (e coisas bizarras desse tipo): qual a força sobrenatural indestrutível que faz todas as portas dos botecos travarem na metade do batente, no dia da votação, por quase 24 horas? O meu bisavovô parece ser o cara mais interessado em solucionar o mistério. Dizem que desde a época de uma tal Diretas Já ele sai cedinho em dia de votação e vai direto já pra sua zona eleitoral investigando, por dentro, a porta de todos os bares até chegar lá! E ele ainda torce, comoventemente, pra ter 2º turno, pra poder aprofundar suas investigações.
Se eu contar pra ele que aqui em Londrina teve até 3º turno ele transfere o título por procuração na hora.
Meu bisavovô é tão fanático pelo mistério que ouvi ele mesmo confirmar que, mesmo tendo direito ao voto facultativo, se pudesse iria à zona pelo menos 3 vezes por semana, sem deixar de picar o cartão em todos os seus objetos de estudo pelo caminho. Um dia espero ter tanto apêgo à minha zona quanto meu bisa. Deve ser legal!
Eu não imaginava o quão velho é meu velho vovô, afinal tenho só 2 anos e meio e já me considero muito vivido. Não que ele aparente, pra mim ele até parece um companheiro de berçário: tem um andar claudicante, desfila uma pancinha de mamá engrossado com Nan Extra-ferro, e ainda por cima (e por baixo também) nem nasceu nenhum dentinho na boca dele desde que eu o conheço. E aquela banguelinha disfarça mesmo sua idade. Dizem que ele é tão velhinho – e visionário – que no seu primeiro sufrágio universal ele não perdeu o voto: fez boca de urna para um tal de Barrabás, que ganhou disparado.
Nada confirmado, claro – até que algum contemporâneo arquiteto ou apresentadora de TV prove o contrário. Na verdade, o meu bisavovô é a figura mais carismática que eu conheço, desde que eu falava um só idioma, há 2 anos. E eu espero, como ele, chegar à minha 30ª eleição com sua mesma disposição, humor, alegria e saúde. Tá bom, com apenas uma ressalva: eu trocaria 20 cm de medida da cintura dele por 20 unidades dentárias não postiças, contadas da frente para o fundo da boca e sem intervalos. Mas apenas isso.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Eu não queria vir aqui puxar saco, ms está incrível a visão política desse baixinho sapeca!!
    E que o diga o bisa hein...rs
    Beijo grande para o papai e a mamãe...
    Saudades*

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