Tem um bom espaço de Tempo que não tenho tempo algum para escrever sobre o Espaço que tenho. E faz ainda mais tempo – embora não chegue a duas translações completas – que troquei o pequeno espaço materno de 01 (hum) cômodo por este pleigraundi com 03 quartos e ampla varanda que meus pais arrendaram.
Conheci muitas outras construções com gente dentro, mas nenhuma com tantos passatempos como a nossa: embora ainda faltem alguns ajustes físicos, eu desenvolvi aqui o jogo da derrubação de panelas do armário; da puxação da toalha de mesa posta; do arrancamento do reboque das paredes; da esparramação da piscina de bolinhas (desse a mamãe não gosta nada, e do jogo de pôr as bolinhas de volta quem não gosta sou eu); do arremesso a distância de controles e celulares; da escalada de janelas pelo sofá, da revirada de gavetas em menos tempo (este muito instrutivo por conta da variedade de gavetas que possuímos) e várias outras brincadeiras lúdicas que arrancam gritos de alucinação dos adultos.
Nas casas em que os outros que conhecemos moram (sempre com mais espaço do que gente para ocupá-las) é quase tudo muito arrumadinho e 'desengraçado'. E quanto mais organizado, menos parece que as pessoas se divertem com a atividade infanto-juvenil. Tem gente que gosta da inércia e monotonia do ambiente e das cores, e chega ao cúmulo de combinar até a marca dos móveis! No domicílio de um casal que visitamos uma vez - empregados de uma tal Companhia Departamento de Estado SA de um certo Requião - a mamãe reparou que todos os aparelhos tinham etiquetas da mesma empresa: uma tal MEC. Era tudo muito novinho, e os donos ainda garantiram que teve custo quase zero!
Lá eu me comportei bem... obrigado. E nem ao menos me permitiram pôr os pés no chão, ficando agarrado no colo igual a bolo de aniversário em trajeto de carro até a festa. É muito difícil conter esse instinto incondicionado e natural que o papai diagnosticou como TOCADA: Transtorno Obsessivo Compulsivo Antes De Apanhar, mas, por incrível que pareça, eu conheço bem minhas obrigações infantis, e sigo rigidamente o velho e sábio provérbio que orienta: “primeiro o lazer, depois a diversão”.
Preciso aproveitar bem cada fase, tenho medo de crescer rápido igual Mandiopã no óleo quente (aposto que muitos nunca viram) ou como aconteceu com a galera da Mônica e da Luluzinha (e seus dois Bolinhas), que agora se preocupam mais com as ficções do romantismo adolescente do que com as realísticas viagens no tempo, ataques alienígenas e poções mágicas.
Agora, ao fim do meu tempo nesse espaço, assumo que meu lado criança tem ainda muitos pacotes de fralda no armário, e preciso me preparar melhor antes de fazer como o Severino daquela música que não relançaram em CD porque seu nome só cabe na capa de LP que o papai coleciona [chama-se: Destino e Desatino de Severino Nonô na Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro]: sei que um dia vou ter que abandonar este pleigraundi e, quem sabe, virar produto de exportação e trocar o Cruzeiro do Sul pelo Dólar do Norte...
"As Venturas e Desventuras de Severino Nonô na Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro" puxa Caio! seu pai e eu adóravamos essa música nos nossos tempos de faculdade! música de qualidade do grande Simonal! é verdade o que você está falando... eu mesmo nunca encontrei essa musica em CD ou para baixar da net... mas o disco tá aqui guardado... qualquer dia desses podemos juntos com seu pai ouvir essas e outras mais jogando conversa fora!!!
ResponderExcluirmanda um forte abraço ao seu pai!
Botuca
Agora estou confuso. Essa história é minha ou sua? “Desenvolvi aqui o jogo da derrubação de panelas do armário; da puxação da toalha de mesa posta; do arrancamento do reboque das paredes... Muito bom!
ResponderExcluirAcho que, quando não sabemos escrever, é a época onde mais histórias temos para contar. E você está arrumando isso. Está no futuro (2009) escrevendo sobre seu presente (19??).
Vou lhe visitar (pelo menos virtualmente) mais vezes. Curti muito seu estilo e espero encontrar mais do mesmo.
Abraços
Klaison Simeoni
http://padaquipadai.blogspot.com/