sexta-feira, 15 de maio de 2009

MEU BICHINHO DE COMPANHIA

A priori (elegante, né? li em uma apostila do papai), desculpem pelo sumiço. Eu gostaria de ter escrito antes, mas minha vidinha anda bem turbulenta ultimamente. Além da escola - que me ocupa meio período de todos os dias úteis da semana - e dos casos viróticos que rondaram nossa casa, tive outros imprevistos. Isso sem contar a visita da vovó-louca que, num dos seus surtos, me ensinou a coreografia completa do “Meu Pintinho Amarelinho”, com licença poética para reinventar a letra (sorte que é de domínio público!), e agora essa música não sai da minha cabeça.
Fora isso, ainda tive as consultas médicas mensais, os horários sagrados de descanso caseiro, os treinos de vocalização e pronúncia diários (que mamãe, insensivelmente, chama de gritos) e agora, desde o último mês, ainda tenho um animal de companhia para domesticar segundo meus preceitos educadores (obs: o termo 'estimação' foi abolido por ativistas australianos pelos direitos dos animais!).
A escolha do seu nome anda meio devagar, entre outras coisas. O papai sugeriu alguns, mas a mamãe não aprovou nenhum deles só porque todos terminavam com o sufixo “any”. Eu também tenho algumas queixas sobre o animalzinho: ele não demonstra nenhuma satisfação quando me vê – na verdade fica até mais ligeiro que o normal, sempre na direção oposta – e nem abana o rabinho de alegria. Só pensa em comer e ficar ao sol; não protege a casa de invasores; e ainda é duro demais para se morder!... Pelo menos meu Jabuti vai ser um companheiro pra muuuuuuito tempo.
Todos na família afirmam - e teimam - que é uma tartaruga, mas eu prefiro confiar nos biólogos, no Google e na Genética Moderna. Afinal, os dois progenitores dele (ou dela) eram jabutis de nascença e nunca foram tartarugas ou cágados ou dragões de Komodo. Papai não gosta que maltratem o português (ainda se recuperando da reforma, ‘ora, pois’) e fez, então, a ‘prova do habitat’: mas passados apenas 15 minutos o bichinho já estava completamente fadigado e a bacia d´água cheia de bóias verdes que eu tenho certeza absoluta que não eram lodo. “É, definitivamente este quelônio é terrestre” – concluiu o sábio papai. E aí riscou Tartarany da lista de nomes.
Ter um bichinho estimado implica cuidados especiais, embora precise ser lembrado disso por ele, às vezes. O meu cascudinho é tão discreto que certa vez nos esquecemos dele por 3 dias, solto no quintal. Mas o danado suportou até legal a prova de líder, e logo de cara percebi que ele não emagreceu nadinha. Ele teve muita sorte por 2 motivos: não ter deixado a armadura no viveiro que a outra vovó construiu (acho que é naquele casco que ele estoca os mantimentos) e por seus predadores naturais serem a raposa, o sariguê e o teiú, que o mais próximo deve estar no meio do cerrado pantaneiro, há pelo menos 300 km daqui.
Bom, agora a posteriori (hã-hã, pode copiar Saramago), com licença. Como eu não tenho a mesma independência que o jabuti, vou acordar a mamãe pro banho, pois preciso tirar o casco do corpo. Enquanto isso, pra não perder o costume: “...meu pintinho amarelinho come aqui na minha mão, na minha mão...”

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