sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O PRIMEIRO SACRAMENTO

Fui levado pela mamãe para ser batizado pelo padre na véspera do Natal. O papai também foi (acompanhar-nos, e não ser batizado). Foi lá no interior de São Paulo, onde dizem que há mais bois, presidiários e ‘sem-terras’ do que população economicamente ativa nos municípios. Engraçado, não encontrei nenhum dos três na casa das vovós...
O batismo aconteceu de manhã na igreja matriz da cidade. É preciso marcar dia e hora para esses ritos católicos, enfatizaram, ou talvez se corra o risco de Deus não ficar sabendo e Se ocupar de outras coisas (dizem que ele é muito invocado lá do outro lado do mundo por causa de um problema sério com a tal faixa da Gaza ou coisa assim). Durante a cerimônia havia uma porção de parentes por lá, e eu pensava que só briga de rua e casamentos precisavam de tantas testemunhas. Para resolverem quem é o culpado depois.
As mulheres da família pareciam todas ansiosas e orgulhosas: mamãe, católica crismada; vovó - pelo lado da mamãe - católica carola; vovó - pelo lado do papai – católica devotíssima de Santa Rita; titias-avós, todas catolicamente religiosas; minha madrinha, católica nervosa que nem peru em dia de ceia natalina.
No lado masculino, nenhuma alteração de humor: papai, auto-intitulado ‘pantéista-agnóstico-antropocêntrico’ simpatizante do Kardecismo (esse seria excomungado há 250 anos como herege); vovô, católico nunca praticante; meu padrinho, católico precisando mais de um banho de descarrego com água benta que todos os pagãozinhos presentes.
Bem, voltando aos fatos, vestiram-me com um macacãozinho inteiro branco e fiquei parecido com o SuperMario Bros quando pega aqueles cogumelos, e mantê-lo alvo assim tornou-se o maior desafio da mamãe antes da cerimônia. Eu posso afirmar, com certeza, que a escolha do modelito foi o procedimento que exigiu mais preparação e trabalho dos meus pais e padrinhos, até porque o único dos quatro que havia realizado o exaustivo curso de batismo a tempo esqueceu o certificado quase 40 quilômetros pra trás! Mas cá entre nós, a Igreja Católica não está em condições de dispensar novos fiéis por causa de tradições e exigências burrocráticas.
No final, tudo transcorreu conforme o protocolo, segundo os presentes, porque eu mesmo aproveitei o ambiente caloroso e o discurso hipnótico do padre para tirar um cochilo tão profundo que nem a ducha de água benta no topete me arrancou do reino de Morfeu!

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